Paul Turán (foto abaixo) foi um matemático húngaro especialista em teoria dos números e combinatória. Neste post, veremos um dos resultados que iniciou a teoria extremal dos grafos: o Teorema de Turán.
Seja G um grafo simples com n vértices. Qual é o maior números de aresta que G pode ter de modo que não tenhamos em G uma p-clique?
Pensando por um momento, podemos elaborar um exemplo de um grafo G = (V,E) com n vértices sem uma p-clique e com bastantes arestas da seguinte maneira: particione V em conjuntos V_1,\ldots, V_{p-1} de modo que | |V_i| - |V_j| | \leq 1, para todo i\neq j, e conecte dois vértices se, e somente se, eles pertencerem a partições distintas. O grafo resultante é chamado de grafo de Turán e é denotado por T^{p-1}(n) e seu número de arestas será denotado por t_{p-1}(n).
Este grafo é um grafo (p-1)-multipartido. Entre todos os grafos (p-1)-multipartidos que não contém uma p-clique, aquele que definimos é o que tem o maior número de arestas, graças a condição | |V_i| - |V_j| | \leq 1, para todo i\neq j. De fato, suponhamos que | |V_i| - |V_j| | \leq 2, para algum par i \neq j. Podemos supor, sem perda de generalidade, que |V_i| \geq |V_j| + 2. Mudando um vértice de V_i para V_j, temos que o novo grafo contém (|V_i| - 1)(|V_j| + 1) - |V_1||V_j| = |V_i| - |V_j| - 1 \geq 1 arestas a mais que o grafo anterior, gerando um grafo com um maior número de arestas. Portanto, é verdade que o grafo de Turán é o que contém o maior número de arestas entre todos os grafos (p-1)-multipartidos sem p-cliques.
Se p-1 divide n, temos que o grafo de Turán T^{p-1}(n) é uma grafo (p-1)-multipartido regular, i.e., todas as p-1 partições contém o mesmo número de vértices: n/(p-1). Assim, temos que
t_{p-1}(n) = \binom{p-1}{2}\left(\frac{n}{p-1}\right)^2 = \left( 1-\frac{1}{p-1} \right) \frac{n^2}{2}.
O que o Teorema de Turán afirma é que este número é um limitante superior para o número de aresta para qualquer grafo sobre n vértices sem p-cliques.
Demonstração. Seja G = (V,E) um grafo com n vértices sem uma p-clique e com o número máximo de arestas.
Consideramos dois casos:
Caso 1: d(u) < d(v) ou d(u) < d(w).
Suponha, sem perda de generalidade, que d(u) < d(v) (o outro caso é análogo). Então, duplicamos v, i.e., criamos um novo vértice v' que tem os mesmos vizinhos que v (mas vv' não é uma aresta. Veja a figua abaixo). Agora apagamos o vértice u. O novo grafo G' assim obtido contém n vértices e não possui uma p-clique. Além disso, temos que
|E(G')| = |E(G)| + d(v) - d(u) > |E(G)|,
o que contradiz o fato de G ser o grafo sobre n vértices sem p-clique com o maior número de arestas.
Caso 2: d(u) \geq d(v) e d(u) \geq d(w).
Duplicamos u duas vezes, gerando os vértices u' e u'' com os mesmos vizinhos que u (figura abaixo). Apagamos os vértices v e w. O novo grafo G' ainda contém n vértices e não possui uma p-clique. Quanto ao número de arestas de G', temos que
|E(G')| = |E(G)| + 2d(u) - (d(v) + d(w) - 1) > |E(G)|.
Assim, temos mais uma vez uma contradição.
Este grafo é um grafo (p-1)-multipartido. Entre todos os grafos (p-1)-multipartidos que não contém uma p-clique, aquele que definimos é o que tem o maior número de arestas, graças a condição | |V_i| - |V_j| | \leq 1, para todo i\neq j. De fato, suponhamos que | |V_i| - |V_j| | \leq 2, para algum par i \neq j. Podemos supor, sem perda de generalidade, que |V_i| \geq |V_j| + 2. Mudando um vértice de V_i para V_j, temos que o novo grafo contém (|V_i| - 1)(|V_j| + 1) - |V_1||V_j| = |V_i| - |V_j| - 1 \geq 1 arestas a mais que o grafo anterior, gerando um grafo com um maior número de arestas. Portanto, é verdade que o grafo de Turán é o que contém o maior número de arestas entre todos os grafos (p-1)-multipartidos sem p-cliques.
Se p-1 divide n, temos que o grafo de Turán T^{p-1}(n) é uma grafo (p-1)-multipartido regular, i.e., todas as p-1 partições contém o mesmo número de vértices: n/(p-1). Assim, temos que
t_{p-1}(n) = \binom{p-1}{2}\left(\frac{n}{p-1}\right)^2 = \left( 1-\frac{1}{p-1} \right) \frac{n^2}{2}.
O que o Teorema de Turán afirma é que este número é um limitante superior para o número de aresta para qualquer grafo sobre n vértices sem p-cliques.
Teorema (de Turán). Se um grafo G=(V,E) em n vértices não tem p cliques, p \geq 2, então |E| \leq \left( 1-\frac{1}{p-1} \right) \frac{n^2}{2}.Este teorema é um dos belos exemplos em combinatória o qual se conhece várias provas e todas distintas entre si. O leitor que estiver interessado em conhecer algumas destas provas, poderá encontra cinco delas no livro [1]. A prova que daremos aqui é retirada deste mesmo texto e é, dentre as cinco do livro, a mais bela, pois nos dá de cara que o grafo de Turán é o único exemplo de grafo com o número máximo de arestas.
Demonstração. Seja G = (V,E) um grafo com n vértices sem uma p-clique e com o número máximo de arestas.
Afirmação. G não contém três vértices u, v, w tais que vw\in E, mas uv\notin E, uw \notin E.Suponha que exista um trio de vértices U,v,w com vw\in E, mas uv\notin E e uw\notin E (figura abaixo).
Consideramos dois casos:
Caso 1: d(u) < d(v) ou d(u) < d(w).
Suponha, sem perda de generalidade, que d(u) < d(v) (o outro caso é análogo). Então, duplicamos v, i.e., criamos um novo vértice v' que tem os mesmos vizinhos que v (mas vv' não é uma aresta. Veja a figua abaixo). Agora apagamos o vértice u. O novo grafo G' assim obtido contém n vértices e não possui uma p-clique. Além disso, temos que
|E(G')| = |E(G)| + d(v) - d(u) > |E(G)|,
o que contradiz o fato de G ser o grafo sobre n vértices sem p-clique com o maior número de arestas.
Caso 2: d(u) \geq d(v) e d(u) \geq d(w).
Duplicamos u duas vezes, gerando os vértices u' e u'' com os mesmos vizinhos que u (figura abaixo). Apagamos os vértices v e w. O novo grafo G' ainda contém n vértices e não possui uma p-clique. Quanto ao número de arestas de G', temos que
|E(G')| = |E(G)| + 2d(u) - (d(v) + d(w) - 1) > |E(G)|.
Assim, temos mais uma vez uma contradição.
Agora defina relação \sim sobre V(G) da seguinte maneira:
u \sim v \Leftrightarrow uv \notin E(G).
Temos imediatamente que \sim é reflexiva e simétrica. A afirmação que acabamos de provar nos permite concluir que \sim é transitiva: se v \sim u e u \sim w, então v \sim w, do contrário teríamos vw\in E, mas uv\notin E, uw \notin E, o que não pode ocorrer, como provado na afirmação.
Mas uma vez \sim define uma relação de equivalência sobre V(G), os vértices de G são particionados em classes de equivalência de tal maneira que G é um grafo multipartido. Ora, dentre todos os grafos multipartidos sobre n vértices, aquele que não contém uma p-clique e contém o maior número de arestas é o T^{p-1}(n). Isto conclui a prova do teorema.
Referências.
[1] Martin Aigner, Günter M. Ziegler; As porvas estão n'O LIVRO. Editora Edgard Blücher, 2002.
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